"Learn to look without imagination, to listen without distortion: that is all. Stop attributing names and shapes to the essentially nameless and formless, realize that every mode of perception is subjective, that what is seen or heard, touched or smelled, felt or thought,expected or imagined, is in the mind and not in reality, and you will experience peace and freedom from fear." - Nisargadatta Maharaj
Friday, March 02, 2007
As práticas preliminares
Dzongsar Khyentse Rinpoche
Depois de um ensinamento sobre o Longchen Nyingthig Ngöndro no Vajradhara Gonpa, de 24 a 30 de dezembro de 1998, Dzongsar Khyentse Rinpoche deu esta entrevista à revista Gentle Voice.
Poderia primeiramente dizer algo sobre o Longchen Nyingthig Ngöndro, Rinpoche?
No Vajrayana, é muito enfatizado o conceito de se fazer uma prática preliminar antes de se envolver em coisas mais sérias, como receber iniciações. É algo muito importante a ser fazer no Vajrayana em geral. Então cada uma das escolas do buddhismo tibetano tem práticas fundamentais. Mas gostaria de esclarecer algo aqui. Muitas pessoas pensam que há um conjunto de práticas fundamentais. Mas "fundamento", obviamente, é como quando você compra uma casa; você precisa de um bom fundamento para que qualquer coisa que você construa seja estável, confiável e duradoura. Do mesmo modo, a prática fundamental da qual os buddhistas Vajrayana falam é exatamente o mesmo. É como construir um fundamento para a prática espiritual. Realmente, tudo o que fazemos antes da prática principal é uma prática fundamental, como a compaixão, o lojong ou o treinamento da mente em sete pontos. Ou até mesmo, como você pode ver na história da vida de Milarepa, construir casas, demolir as casas, construí-las de novo, coisas assim, são uma prática fundamental.
Basicamente, é um estágio de treinamento da mente. Você sabe, nossa mente é rígida. Temos de fazê-la ficar flexível. E a prática fundamental faz isso. Esse é o objetivo da prática fundamental. Cheios dos meios hábeis dos Lamas passados, eles vieram com esta idéia de um conjunto de práticas fundamentais, como refúgio com prostrações, Bodhichitta, oferenda de mandala e assim por diante. Isso é um método muito maravilhoso porque isso é o que é necessário. Veja, os seres humanos precisam de um certo sistema. Se um mestre diz a um discípulo como construir um bote, isto será a sua prática fundamental se o discípulo for muito devotado e inteligente. Hoje em dia, as pessoas não tomariam isto como uma prática fundamental. Uma prática fundamental tem de ser algo como cântico de mantras e coisas assim. É por isso que temos de entender a prática fundamental deste modo, como um treinamento da mente.
Então o Longchen Nyingthig é uma prática fundamental principalmente para a linhagem Nyingma. E especialmente para aqueles que desejam praticar Dzogchen, isto é como o treinamento da mente ou a prática fundamental. Mas tendo dito isso, não é que uma vez que você tenha terminado certos números que você estava suposto a fazer, você terá terminado sua prática fundamental. Você finalizará sua prática fundamental quando a sua mente estiver treinada, quando sua mente estiver flexível! Eu vi grandes Lamas como Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche, até mesmo pouco antes de morrer, fazer prática fundamental muitas vezes. Então não é que você fazê-la durante alguns anos e então irá esquecê-la para ir a uma prática superior ou maior. Não é assim. Especificamente, quero dizer que o Guru Yoga é algo que você continuará a fazer desde agora até a iluminação.
Agora, particularmente estes ensinamentos do Longchen Nyingthig Ngöndro que eu dei foram compilados por Jamyang Khyentse Wangpo. Então pensei que isso seria auspicioso para aqueles que desejam praticar a linhagem de Khyentse.
Durante as práticas preliminares, completamos um grande número de prostrações e recitações. Que efeito elas podem ter sobre os praticantes?
Basicamente, no Vajrayana há conceitos de purificação de máculas e de acumulação de mérito. Estas são duas habilidades muito importantes que um praticante Vajrayana deve ter. Quero dizer, até no Mahayana é o mesmo. Mas no Vajrayana, o modo pelo qual purificamos as máculas e o modo pelo qual acumulamos mérito é muito mais esperto, mais sutil e mais poderoso. No Mahayana ou nos outros veículos, o modo para acumular mérito pode envolver coisas que não são necessariamente fáceis de praticar, como dar seus próprios membros, ou coisas que gastam muito tempo, como aquelas que requerem três éons. Mas no Vajrayana, como ele é muito hábil e é uma prática orientada para a sabedoria, os métodos como a acumulação de mérito e a purificação de máculas são baseados até mesmo sobre o cântico de mantras.
Mas então, é claro, a raiz do Vajrayana é o Mahayana, então aqui a motivação é muito importante. Quero dizer, se você canta um mantra sem a motivação adequada ou sem concentração suficiente sobre a visualização, o mantra pode não trabalhar tão bem quando deveria. Isto é porque quando falamos sobre motivação, estamos falando basicamente de Bodhichitta. E como o Buddha disse, tudo é dependente das circunstâncias e da situação. Então se você puder recitar estes mantras baseado na Bodhichitta, as circunstâncias e situação corretas podem surgir. Cantar um mantra é, de certo modo, realmente criar circunstâncias muito profundas e sutis. Então é por isto que funciona.
No passado, os tibetanos sempre completavam suas práticas preliminares antes de receber quaisquer iniciações tântricas. Hoje em dia muitos estudantes recebem iniciações tântricas antes de começar a prática fundamental. Poderia dizer algo sobre isto, Rinpoche?
Sim, mesmo o conceito de fundação é o de algo que você faz primeiro, e então faz o principal. Mas isso tem realmente sido bem enganador porque muitas pessoas pensam que a prática preliminar é algo que você faz primeiro e então nunca mais fará depois de terminá-la. Esse não é o caso aqui. Como o próprio Patrül Rinpoche disse, de certo modo a prática preliminar é muito mais importante que a prática principal. Isto é um slogan. Mas faz sentido porque, como você pode ler em qualquer texto de prática fundamental, ela tem Bodhichitta, tem refúgio e assim por diante. É como uma prática principal mesmo que, a fim de encorajar os estudantes, a chamemos de prática fundamental. De qualquer modo, geralmente você faz a prática fundamental primeiro e então obtém a iniciação ou instrução principais do seu professor. Mas esse é um modo muito padrão de entender as coisas. Depende totalmente do seu professor, totalmente da linhagem, totalmente do praticante individual. Um professor por ensinar a prática do Ngöndro junto com uma prática principal, outro pode pedir que você faça o Ngöndro muitas vezes e então ele ensinará a prática principal. Isto depende totalmente do indivíduo. Mas tradicionalmente, a interpretação padrão da prática fundamental é o de algo que você deve fazer primeiro.
Um dos alicerces da prática preliminar é o Guru Yoga. Porém o relacionamento aluno-professor pode não ainda estar estabelecido. Você pode comentar sobre isto, Rinpoche?
Especialmente no Ocidente, não muitas pessoas têm um professor específico. E mesmo se eles encontraram um professor, então há um problema constante de relacionamento com o Lama. Então é algo difícil. Mas até mesmo se você encontrar um professor perfeito e então praticar, é importante perceber isto. Se você encontrou o professor perfeito, isso significa que você encontrou o professor perfeito. É você que encontrou o professor perfeito. Isso significa que você é bem realizado. Então deste modo o Guru Yoga é um processo de tentar encontrar o professor perfeito. E mesmo se não se tem um professor específico, eu aconselharia as pessoas a fazer o Guru Yoga e então encontrar o professor correto através deste Guru Yoga. Encontre um professor ou dois, tanto faz. Não gostaria de iludir as pessoas deixando-as pensar que primeiro você deve encontrar o professor perfeito e então fazer o Guru Yoga. Isso soa um pouco irrealista para mim.
E sobre esse mesmo assunto, o que você aconselharia a fim de manter a visão pura diante do professor?
Há muitos conselhos. Acho que é sempre importante saber que qualquer interpretação que façamos — não apenas sobre o professor, mas sobre as outras pessoas também — sempre está vindo da nossa própria interpretação, da nossa própria expectativa, do nosso próprio medo. E este é o primeiro passo que as pessoas devem aprender. É fácil acusar ou cultuar alguém. Mas o que quer que você faça, você é aquele que está a fazendo. Quando mais você souber isto e então praticar a devoção, nada dramaticamente errado pode acontecer. Então, separado disso, sempre aconselho as pessoas a passar o menos tempo possível com o professor, a menos que seja necessário. Se não for necessário, não há muito sentido. E então, é claro, há o conselho clássico como ler as biografias dos professores passados, o que pode ajudar. Mas basicamente, acho que é muito importante saber se o que quer que você esteja pensando ou qualquer julgamento que esteja fazendo, você é aquele que está o fazendo. Isso sempre parece ajudar.
Poderia dizer algo sobre as armadilhas e riscos para os novos praticantes do Dharma, Rinpoche?
Expectativa! Acho que é um grande problema. É claro, a motivação também. Você sabem, a motivação do porquê estamos praticando o Dharma, pois a maioria de nós pratica o Dharma a partir de uma motivação muito limitada, de querer ser feliz, de querer ser relaxado, de querer ser mais forte ou de qualquer coisa. Se você faz isso, ficará desapontado porque estamos vivendo no samsara e ser realmente feliz é bem difícil. Mas a meta última da prática do Dharma não é para isso. É para a iluminação. E acho que esse é o meu conselho importante. Se você está praticando o Dharma, sua prática é para a iluminação, não por direitos, não por liberdade, não por justiça, não por cura, não por melhorar de uma maneira mundana.
Qual é o seu conselho para aqueles que estão fazendo o Ngöndro?
Acho que, "de agora em diante até atingir a iluminação, eu farei isto". Isto deve ser mantido em sua cabeça. Nunca pense que você está fazendo isto para obter um ensinamento principal.
Poderia explicar um pouco sobre a cerimônia de Gesar de Ling que aconteceu no Gonpa recentemente, Rinpoche?
Sempre pensei que, durante este tempo degenerado, somos atormentados por todos os tipos de sofrimento. É claro que sempre temos um muitos tipos diferentes de sofrimento, diferentes tipos de dor e ansiedade. E um dos mais difíceis é o conflito mental, a confusão mental, especialmente a depressão, ficar para baixo e todas as coisas assim. E às vezes quando sentimos isso muito fortemente, tanto individualmente quanto em grupo, isto realmente pode prejudicar a energia do lugar, a energia do país, a energia de todo o ambiente. Então Guru Rinpoche, com sua grande compaixão, criou muitos ensinamentos de tesouros para o benefício destes tempos degenerados como este. E um deles é o tesouro de Gesar de Ling, que tem muito a ver com se animar, fortalecendo o próprio modo de ver as coisas, começar o dia com alegria, basicamente, começando o dia com algo elevador. Como o Guru Yoga é muito enfatizado no Vajrayana, achei que Gesar de Ling seria apropriado, já que ele é a manifestação de Guru Rinpoche. Ela se tornará não apenas a prática de Dharmapala ou protetor, mas também se tornará um Guru Yoga em outra forma. E aqueles que quiserem saber sobre Gesar de Ling devem se familiarizar com alguns dos ensinamentos de Chögyam Trungpa.
Poderia dizer qualquer coisa para concluir, Rinpoche?
Seja feliz. Sem preocupações, companheiro!
Fonte: http://www.dharmanet.com.br/khyentse/ngondro.htm
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